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Síndrome Piriforme

Síndrome Piriforme

O Síndrome Piriforme é uma patologia neuromuscular responsável por cerca de 6% dos casos de ciatalgia (ciática) e uma causa de dor na região lombar que pode percorrer com dor e parestesias ao longo do trajecto do nervo ciático. Apesar de se apresentar como uma das principais causas das dores lombares e isquiáticas, esta patologia é frequentemente subdiagnosticada ou seu diagnostico correcto é demorado devido a  sintomas clínicos, por vezes não específicos, e ausência de testes diagnósticos próprios.

O 1º caso conhecido remonta a 1928. No entanto, o termo síndrome piriforme só foi introduzido em 1947 para definir os casos em que, não havendo evidência de hérnia discal, a dor ciática era provocada por alterações ao nível do músculo piriforme.

Estima-se que o Síndrome Piriforme seja responsável por 0,5% a 6% dos casos de dor ciática. É mais frequente na terceira e quarta década de vida, atingindo maioritariamente mulheres (rácio 6:1), devido à biomecânica pélvica.

A etiologia mais frequente é o trauma. No entanto, há outras causas como a assimetria dos membros inferiores, lesões, variações anatómicas congénitas, uso em demasia, hipertonicidade e hipertrofia do músculo piriforme.

O nervo ciático é formado por raízes com origem no plexo lombo-sagrado (L4, L5, S1, S2 e S3). Este cruza o músculo piriforme após emergir da grande chanfradura ciática. Esta relação anatómica está na origem da ciatalgia provocada pelo síndrome piriforme. Uma vez que as linhas de orientação europeias definem lombalgia como dor localizada entre o final da grelha costal e a prega glútea, o síndrome piriforme deve ser um diagnóstico a considerar. É importante ter presente que a dor ciática não é uma doença, mas sim um sintoma, resultado de algum problema subjacente. Assim, em pacientes com dor ciática, sem evidência de hérnia discal vertebral, devem ser procuradas outras causas.

A semiologia mais comum do síndrome piriforme é a dor no glúteo acompanhada de ciatalgia, que é despoletada pela posição sentada, pela palpação do grande foramen ciático e por manobras que aumentem a tensão do músculo piriforme. Menos habituais são a dispareunia, Lasègue positivo ou alterações neuromusculares (reflexos, sensibilidade ou motricidade). Várias manobras foram propostas para o diagnóstico clínico, baseadas na contracção activa ou distenção passiva do músculo, que são consideradas positivas quando provocam dor na nádega. Estudos atribuíram à positividade conjunta dos testes FAIR e Pace, uma sensibilidade 91% e uma especificidade de 80%. Outros estudos propuseram uma pontuação clínica para facilitar o diagnóstico, com uma sensibilidade e especificidade estimadas, respectivamente, em 96% e 100%.

 

CAUSAS

No entanto, as características da dor ciática nas pessoas que possuem este síndrome são caracterizadas por:

  • Dor em forma de pontada, facada, sensação de calor ou de formigueiro no glúteo ou atrás da coxa;
  • Pode haver dor na região lateral da perna e parte de cima do pé;
  • A dor piora ao ficar sentado e cruzar a perna;
  • A primeira crise pode surgir na gravidez, devido ao aumento da peso e tamanho da barriga;
  • É comum a pessoa claudicar (“mancar”) durante uma crise ciática;
  • Podem estar presentes sintomas como défice de força (fraqueza da perna) e sensação de parestesias (dormência) no glúteo ou coxa.

 

TRATAMENTO

O tratamento baseia-se em medidas conservadoras, como anti-inflamatório não esteroide (AINE), analgésicos, relaxantes musculares, e fisioterapia. Quando aplicadas simultaneamente, estas medidas mostraram ser capazes de eliminar/atenuar a ciatalgia.

Quando estas medidas não são eficazes, a próxima linha de tratamento será a injecção eco-guiada de anestésico, AINE ou toxina botulínica. Os tratamentos não cirúrgicos conseguem resolver cerca de 85% dos casos, ficando o tratamento cirúrgico reservado para os casos mais resistentes, geralmente com bons resultados.

Embora a anamnese e o exame físico se revelem bons prognósticos do diagnóstico, o síndrome piriforme apresenta várias semelhanças com outras patologias da coluna lombar e sagrada.

Esta patologia tem um impacto significativo na vida dos doentes, levando a absentismo laboral e a sofrimento, disfunções crónicas como atrofia muscular ou cronificação da dor, daí o interesse em diagnosticar e providenciar tratamento adequado em tempo útil.

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